domingo, 24 de maio de 2009

O 25 de Abril de 1974
As pessoas da aldeia do meu pai e do meu tio falavam muito baixinho, porque tinham medo que os agentes da PIDE, disfarçados a civil, os ouvissem. Quando falavam alguma coisa do Governo, tinham de trancar portas e fechar janelas, para falar sobre o assunto. No caso da rádio, só podiam ouvir rádio se pagassem a taxa, por isso, o meu avô metia os seus filhos à porta para, se passasse alguém estranho, para o avisar. No caso de mandar cartas, os polícias reviam as cartas e as cartas que tivessem alguma coisa escrita contra o Governo eram retidas para averiguações. Como ainda não tinham telecomunicações avançadas, eles não sabiam da maioria dos acontecimentos. Só os comerciantes, por trabalharem com várias pessoas, estavam mais a par dos acontecimentos. Na escola, os rapazes eram separados das raparigas e tinham que usar uniforme. Na vida militar, alistavam-se rapazes com idades superiores a 18 anos, pois assim era uma maneira de preparar os jovens para servir a pátria.
O meu tio vivia, numa aldeia, chamada Santo André das Tojeiras, era estudante e tinha 17 anos. Ele contou-me que, nesse dia do 25 de Abril, quando o meu avô ligou a rádio, como de costume, o meu tio apercebeu-se de que alguma coisa se tinha passado, porque foi dito na rádio para manterem a calma, pois tinha ocorrido um golpe de estado. Depois passou uma música de José Afonso (Zeca Afonso) que se chamava “Grândola, Vila Morena”. Foi então que o meu tio se apercebeu de que algo tinha mudado. Primeiro, porque o Governo tinha proibido as músicas de José Afonso passarem na rádio e na televisão e depois, porque o cantor foi várias vezes preso pela PIDE.
No dia seguinte, na escola, é que o meu tio se apercebeu exactamente do que tinha ocorrido.
A partir do 25 de Abril, o meu tio sentiu que as pessoas começaram a mudar a maneira de falar e a viver de forma mais livre.


Zeca Afonso


Um grupo de militares em preparação para a guerra.

Inês Martins